agosto 21, 2010

se eu fizesse? (III)

Sabendo que os dias não são todos iguais, aí estou eu, na rua, para me dedicar a mais um dia rotineiro. Bem agasalhada, porque o tempo não está de grandes calores estando, até bem diferente ao de ontem, na temperatura.
- Ah… tenho de voltar a casa, esqueci a minha pedra.
Acelera seu passo, entra em casa e levanta a almofada…
- Eu sabia que estavas à minha espera…não imagino perder-te.
Beija a pedra, coloca-a no bolso de suas calças e sai, agora, mais completa para começar o dia de trabalho.
Já bem perto do escritório primeiro, a pastelaria do Sr. João. É ali, que todos os dias toma o pequeno-almoço.
- Bom Dia Sr. João.
-Olá Bom Dia menina Cláudia. Vai o costume?
- Sim, para não variar. Obrigado.
(Trata-se de um copo de leite bem quente e um pãozinho de Deus com um pouco de manteiga). Sentei-me, até porque ainda faltava uma meia hora para entrar no escritório e, entretive-me a observar aquele mundo de gente. Uns mais apressados que outros, por sua vez, outros conversando num timbre de voz que quase causa arrepios. Conversas de futebol, de mulheres e homens, do dizer mal deste e daquela, enfim, um mar de vida.
Leva a sua mão ao bolso das calças e retira a pedra. Cheira-a, beija-a e esfrega-a, suavemente nas mãos...
- Aqui está o seu pequeno-almoço menina.
- Ah…obrigado Sr. João.
Remete a pedra novamente ao bolso e começa a comer. Entretanto...
- Olha, o meu colega.
Levantando o seu braço, faz-lhe sinal para que se fosse sentar e assim foi. Acompanhado da sua bica, sentou-se e lá demos dois dedos de conversa. O suficiente para o tempo passar a correr. Saímos e dirigimo-nos ao escritório.
E…
Uma surpresa logo de manhã e para mim.
Ainda não me tinha sentado e sou abordada pelo meu Director, acompanhado por um outro senhor.
Diz-me o Director:
- Bom Dia Cláudia, apresento-lhe o Sr. Thomáz.
Entra hoje para a empresa e vem ocupar o lugar vago junto de si.
Delicadamente, levanto-me e cumprimento o Senhor e depois o meu Director que, de imediato me diz:
- Cláudia, quero pedir-lhe que ajude este nosso, novo, colaborador. O identifique do que se pretende e lhe dê uma apresentação, o mais apurada possível, sobre a empresa. Gaste o tempo que achar necessário, para que nada possa escapar. Quero o Thomáz bem conhecedor de quem somos. Deixo-o nas suas mãos, até já.
Assumi a função mas... não sem antes reparar o quanto o meu Director me observava.
O seu olhar, fora do habitual, os seus olhos, a fixação em mim, por vezes o parecer interromper a sua conversa e, naquele curto silêncio, o seu olhar como se fosse a primeira vez que me via.
Não posso dizer que tenha ficado incomodada, mas...
Quer dizer…fiquei. Algo de diferente notei e em mim penetrou... e ficou.
.

13 comentários:

maria teresa disse...

Boa Sérgio! E assim Claúdia vai avançando num percurso de vida...
Abracinho

Anónimo disse...

Gostei de rever a Cláudia...
Fica bem...

JB disse...

sérgio,

Há um selo (desafio) no meu blogue à tua espera.

Beijinho

sérgio figueiredo disse...

Caro Anónimo/a,
Quero agradecer a sua visita, mas esclarece-lo de que a ideia que dá é que estarei a fazer uma repetição.
"gostei de rever a Cláudia".
Na verdade, iniciei este conto, idealizado por mim, em Novembro de 2008, mas não fui além de um
6º capítulo. É, agora, que o reinicio, mas o mesmo, se reparar, tem alterações textuais e, é minha ideia, até que as palavras se me acabem, dar um fim a este conto, fantasiado pela minha mente.
Caro anónimo/a, não é repetir, mas sim, recomeçar o que não consegui dar continuidade.

JB disse...

Estou com toda a ânsia à flor da pele!
Entrou no teu conto o trabalho, que não pode faltar. E ainda bem! Sempre gostei de ler os movimentos de quem se prepara para mais um dia de entrega!
Todo este momento é o suspense no seu auge. A pedra (sempre junto da Cláudia- bonito nome!), o seu mistério (que me deixa em pulgas :)), a tomada daquele apetitoso café (que também tomo sempre) e agora deixas no ar "Algo de diferente notei e em mim penetrou... e ficou."

Sérgio,
Delicio-me nesta aventura, tão bem escrita, onde as palavras me guiam como se fizesse parte do conto! Que maravilha! Agora eu também fico, pois fico à espera da continuação... :)

Como vês, eu também perco as palavras, quando aqui leio o que escreves! :)

Beijinho

OutrosEncantos disse...

Todas as manhãs se abrem com movimentos rotineiros, gestos que estão no nosso subconsciente, que fazemos automaticamente enquanto nos vamos esforçando com "coisas" imprescindíveis, a não esquecer!
Também o café da manhã é mais saboroso na pastelaria do Sr. João, uma ternura de pessoa que gosta de nos tratar bem! ... e os dois dedos de conversa com os colegas enquanto não chega a hora de começar as tarefas do dia! São gestos rotineiros mas que não dispensamos, não cansam e sabem tão bem que dá até p'ra nem reparar na cusquice maldosa de quem nos rodeia!

Ah..., mas há algo importante no bolso de Claudia, a pedra/gente, a pessoa amada, que bom tê-la mesmo alí, à mão de semear..., mimar sem ninguém ver..., um beijo sorrateiro, disfarçado.... humm..!

... e há agora novas personagens a entrar em cena...
... algo importante que parece ter arranhado o coração de Cláudia....
Bem..., estou como a JB, em pulgas... aguardando os novos acontecimentos....

Não sei porquê, mas pressinto que vou adorar esta história!
Cheira-me a sentimento, coração, alma... muita coisa bonita...

Ansiosamente esperando mais :))
Beijos!

p.s. - em "TeusMimosMeusEncantos" o carinho que você me deixou ontem.
'Bigada :)

OutrosEncantos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá Sérgio

A partir deste capítulo iremos ter acção...

Estruturalmente, se me permites a opinião, qualquer narrativa deve colocar um problema, pelo menos, e ter diálogos para que, por essa via -- supondo natural o envolvimento dos personagens -- variem as perspectivas, os conflitos e eventuais soluções ou bloqueios.
Longa ou curta, uma narrativa deve, no mínimo, ter um discurso directo.

Temos então três pessoas que irão conviver e uma pedra que servirá para algo mais do que um arremesso (...Rsrsrsr).

Aguardo os próximos capítulos.))

Um abraço

Canto da Boca disse...

O cotidiano nos engole, e toda a vida parece agora ser banal, todos os gestos envoltos nos hábitos, tantos, infindos, sem sequer se saber o porquê. Quiçá seja esse re-fazer diariamente o responsável pelas mudanças, muitas vezes imperceptíveis, do que somos, do quanto avançamos, do quanto já não somos mais, para continuarmos os mesmos... Quantas pedras atiramos fora, quantas guardamos como amuleto, numa tentativa (por vezes inútil), de termos um amparo, um objeto conhecido, nessa transformação que sofremos ao longo do tempo. E quando demos por nós, eis que o novo entra na nossa vida, e nem sempre deixamo-lo ficar.

Abraço, Sérgio!

;)

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo
A vida nos sufoca, o vazio é o nosso silêncio.
Adoro ler-te
Beijinhos
Sonhadora

vieira calado disse...

Obrigasd

pelo seu gentil comentário à poesia


patente no meu blog.


Um forte abraço

poetaeusou . . . disse...

*
e continuo acorrentado,
ás tuas palavras !
,
abraço,
,
*

Baila sem peso disse...

A Cláudia no seu quotidiano
encontrou um dia diferente...
olhou e viu penetrantemente
com outro olhar o Director
que lhe apresentou um Senhor...
será a sua pedra aveludada e branca
que logo pela manhã a espanta
com uma novidade?!...
seguirei com curiosidade...

(a escrita é sempre algo que conquista
quando nas veias, fantasia ou realidade exista
que ao nosso dia-a-dia assista)

Bjinho de carinho