setembro 26, 2010

se eu fizesse? (VIII)

Cláudia:
- Vou só buscar o casaco.
(Cáudia): Pedrinha... vamos e que acabe depressa. Entretanto deixa-me guardar esta carta dentro da mala. Ainda não estou em mim.
Fernando:
- Estamos prontos? Vamos embora? Thomáz, já lhe deram o carro da empresa?
Thomáz:
- Sim... sim, já o tenho Fernando.
Fernando:
- Óptimo. Então vamos no seu carro.
Thomáz:
- É aquele que está ali.
Fernando:
- Eu vou atrás.
Cláudia:
- Fernando, nem pense nisso. Vai à frente com o Thomáz.
Fernando:
- Cláudia, não é escolha, é palavra de chefe. Vá... vamos lá. Thomáz, o carro só tem um contra, tem duas portas.
Thomáz:
- Bem, agora têm de me dizer para onde vamos.
Fernando:
- Ahh... hoje vou deixar à escolha da Cláudia. Eu sei que ela brilha com as suas escolhas.
Cláudia:
- Sr.director...Fer, Fernando, não me faça isso. O senhor é que decide.
Fernando:
- E está decidido. A Cláudia é que sabe onde vamos almoçar. Posso ajudá-la um pouco... Hoje, alinhava num bom Rodízio de carne. Que dizem?
Thomáz:
- O Fernando manda, parece-me bem. Só preciso de saber onde e qual o caminho.
Fernando:
- Cláudia, não está pelo Rodízio? Está tão calada, prefere o de peixe?
(Cláudia): Porquê... porquê eu? Pedrinha, não te estou a sentir aliás, nada em mim eu estou a sentir. Quem diria que ia ter um começo de semana assim? Ontem, andámos tão bem. Eras tu e eu, naquele "templo" de aragem pura, caminhando descalça naquela areia, humedecida pelas ondas daquele mar bravio e sentin...
Fernando:
- Cláudia??? Estamos à espera.
Cláudia:
- Desculpem. Sr. Fernando não me ocorre... não sei, talvez aquele no cais junto ao par...
Fernando:
- Ahh... Já sei. Excelente escolha Cláudia. Eu não lhe disse Thomáz? A Cláudia brilha. Vamos embora Thomáz. Por ali... aquela estrada à direita depois, na primeira à direita, outra vez, e por fim, sempre em frente.
(Cláudia): Desta safei-me, Ufff...
Fernando:
- Então, foi assim tão difícil, Cláudia? A Cláudia surpreende-me todos os dias. É ou não é Thomáz? A nossa Cláudia vale ouro.
Thomáz:
- De facto, só numa manhã, companhia e simpatia...
Fernando:
- Thomáz, é aquele ali. Agora é ver lugar para o carro.
Thomáz:
- Que tal ali, onde está a sair aquele? Até fica à porta.
Fernando:
- Ora vamos lá saborear um magnifíco rodízio de carne.
(Cláudia): Ahh... deixa-me sair e respirar. Oxalá o Fernando escolha mesa no varandim. Estou demasiado quente para ficar no interior.
Thomáz:
- Agradável, não conhecia.
Fernando:
- Ohh... ainda vai ver mais. Não é Cláudia?
(Cláudia): Mas que grande enigma. De quem será esta carta? Só pode ser de alg...
Fernando:
- Não é Cláudia? Cláudia??? Huumm... hoje está diferente. Algum problema?
Cláudia:
- Desculpe Fernando, não ouvi.
Fernando:
- Thomáz, você fez algum mal à Cláudia?
Thomáz:
- Fernando... como me atrevia?
Fernando:
- A nossa Cláudia está, quer dizer, não está cá.
Cláudia:
- Fernando, enquanto escolhe a mesa, vou à casinha.
(Cláudia): Deixa-me pendurar ali o casaco e vou refrescar-me. Ai... só espero que o Fernando escolha uma mesa no varandim. Hoje não estou para almoços...nem no refeitório da empresa. De quem será esta carta? Bem...vamos lá.
Fernando:
- Está bem aqui Cláudia? Tem de estar, já me sentei.
(Cláudia): Eu sabia. Tinha de ser cá dentro. Bem, mas não está quase ninguém. Lá fora está mais gente.
Cláudia:
- Sim, Fernando. Para mim qualquer lugar serve.
Thomáz:
- Bem, nem vale a pena ver a ementa?
Fernando:
- Ver pode ver, mas já está escolhido. Cláudia, hoje está coradinha. Já sei... ontem andou a passear com o Sol, foi?
Cláudia:
- Por acaso foi. Desculpem, vou só buscar os meus lenços de papel ao casaco.
(Cláudia): Bem, começam as perguntas e eu mais corada que as carnes grelhadas. Ah... não estão aqui, devem estar na mala... espera, já encontrei. Não, é um papel...

A madrugada se vai vestindo,
de luz e movimento.
Meu coração aguarda,
na janela,
o ansiado momento.
Bate...
chorando lágrimas de sangue,
colorindo de vermelho
as pedras da calçada.
Desenhando a passerelle,
pronta para ser usada,
apenas,
com teu caminhar,
pela tua passada.
És leveza, suavidade
e teu perfume,
que escorre pelo teu corpo,
mo deixas,
soubesses tu, que com ele alimentas
o amor que ferve comigo,
esperando o dia que estarei contigo.
...
.
Sabes Cláudia...
(Comprei um caderno onde vivem, apenas,
linhas vazias.
Aguardam, cada uma, cada folha, palavras minhas,
retratos do meu coração.
São para ti...
desde o dia que te conheci.)
.
(Cláudia): Aiiii... PEDRINHA, por favor... PEDRINHA, está a acontecer desde que te tenho comigo. Foi na gaveta e agora, no casaco. Estou perdida e sem ninguém que eu possa desconfiar.
.
(poema: sérgio figueiredo)

setembro 20, 2010

se eu fizesse? (VII)

Cláudia:
- Thomáz, temos, apenas, dois departamentos para o apresentar e dar-lhe a conhecer. Que acha? Estamos perto da hora do almoço, eu tinha pensado em fazer toda esta parte das apresentações de manhã, mas talvez seja confuso para si. Se parasse-mos e logo a seguir ao almoço, fácilmente se fazia e depois era só no nosso?
Thomáz:
- A Cláudia manda e eu faço. Parece-me bem, parar um pouco e fazer como diz, agora... não me trate por você.
(Cláudia): Ai...ai...Será que vem mais alguma coisa ou o Thomáz fica por aqui?
Cláudia:
- É, fazemos assim e o pouco tempo, até ao almoço, o Thomáz vai-se...vais-te "entretendo" a ver uns papeis, uns documentos.
Thomáz:
- Vamos a isso.
Cláudia:
- Thomáz, então é assim. Estas três pastas são como que um diá...
Thomáz:
-Huumm...Desculpa Cáudia, mas tens um cheirinho bom. Que perfume é?
(Cláudia): Não...não acredito.
Cláudia:
- Nem sei, tenho vários e não reparei qual deles usei.
Dizia: São como que um diário. Assuntos resolvidos e prontos a serem assinados pelo Sr. director. Estã.....
Thomáz:
- Olha que o director não gosta que o trates assim.
(Cáudia): Santo Deus. Outra interrupção e eu, o tema principal. Que voltas que sinto na minha barriga... Casa de banho, para descarregares e refrescares a cara.
Cláudia:
- Tens razão Thomáz, ainda não me habituei. Como eu dizia, as pastas estão, como podes ver, por assunto. Umas são sobre situações, simples, com os fornecedores outras, têm a ver com pagamentos aos fornecedores e só, nada mais se mistura. Esta terceira... Não, para já ficam essas duas.
Ficas já a conhecer alguns fornecedores da empresa. Atenção... apenas para ires dando uma vista de olhos. Não te esforces em fixar. Isso será aos poucos.
Entretanto aproveito e vou ao departamento de vendas. Eles têm muito a mania de deixar para o fim, determinados papeis e depois, somos nós, aqui, que levamos na cabeça. Fica à vontade.
(Cláudia): Safa-te, vai à casa de banho, aliviar, refrescares-te. Ai minha "pedrinha" só tu podes avaliar o estado em que me encontro.
Ahh... sente, sente a minha cara, a minha pele, o meu peito, estou a pedir-te demais? Vá, dá-me a tua companhia, dá-me de ti o muito que puderes, humedece meus lábios. Só tu me tens valido. Bom, vamos lá. Primeiro o departamento de vendas. Faço o que tenho a fazer, dou dois dedos de conversa e... bolas, faltam 15 minutos para o almoço. Lá vou eu a correr para o departamento e dar atenção ao Thomáz.
Cláudia:
- Então Tomáz, demorei muito tempo?
Thomáz:
- Nem dei por ele. Estou aqui a ver o que me deixaste.
Cláudia:
- E não apareceu ninguém?
Thomáz:
- Ninguém
Cláudia:
- Ópti.....
Thomáz:
- Ahh...telefonou o director para lhe ligares.
(Cláudia): Que será desta? Bem, deixa-me ligar.
Cláudia:
- Sim Fernando, ligou para mim, diga.
Fernando:
- Cláudia, tem alguma coisa combinada para o almoço?
Cláudia:
- Não, vou ao refeitório.
Fernando:
- Não, não vai. Vamos almoçar fora com o Thomáz. É o primeiro dia dele, vamos mostrar a nossa simpatia e falar com ele, mais em particular. Esperem aí no gabinete que eu não demoro.
(Cláudia): Bolas, "pior?" Não me podia acontecer.
Aiii... esta vinda do Thomáz, está a pôr-me que nem eu me conheço.
Cláudia:
- Thomáz, vamos almoçar com o Fernando. Não tinhas nada combinado?
Thomáz:
- Não. Até estava à tua espera para me orientares.
Cláudia:
- Pronto, então vamo-nos preparando.
(Cláudia): Ai... o quanto me custa, já tenho as pernas a tremerem. Mas porquê?
Concentra-te Cláudia. Vou já tirar da gaveta as coisas que vou levar... o que é isto, um envelope? Sem qualquer nome...nada. Vou abrir, está aqui é para mim.

Sonhei-te a meu lado
e contigo vivia.
Olhava a tua boca e sentia,
o quanto me dizia,
falava
e a minha se calava.
Louco te procurava,
louco te amava.
Minha boca selou,
quando te encontrou.
Tua boca se calou
e meu coração te
gritou...
Aqui estou...
.
(Cláudia): PEDRINHA... Parece que tenho lume nas mãos. A minha cabeça deixou de pensar, não sei que dizer...ou se quero dizer alguma coisa.
Thomáz:
- Cláudia...Cláudia, está aqui o Fernando, vamos.
Cláudia:
- Va...mos? Onde?
.
(poema: sérgio figueiredo)

setembro 14, 2010

se eu fizesse? (VI)

Cláudia:
- Não Sr. Director, não sou casada.
Director:
- Então Cláudia, o que combinámos?
Cláudia:
- Desculpe, Sr. Direc… Fernando.
(Cáudia): Mantenho as mãos, suadas, trémulas, debaixo da mesa e em cima das minhas pernas, esfregando-as.
Director:
- Não me diga que também é divorciada?
Cláudia:
- Não, não sou... Fernando.
(Cláudia): digam-me quando é que isto acaba. Acho que não vou aguentar com tanta pergunta. Que é que eu faço?
Fernando:
- E esta thomáz? A nossa Cláudia também é solteirinha. Bom, vou deixá-los a sós e... Cláudia, trate bem do Thomáz. Olhe que eu quero-o bem preparado para ver se damos uma volta naquele departamento. Vamos ver se é agora que o lugar fica preenchido.
Cláudia:
- Sim Sr...Fernando.
(Cláudia): Caíu-me o coração ao pés. Eu não aguentava nem mais um minuto.
Thomáz:
- Cláudia, sente-se bem?
Cláudia:
- Sim Thomáz, estou bem. Acho que o café não me caíu bem, mas passa.
(Cláudia): Levanto-me, pego na minha chávena e na do Thomáz mas…
Thomáz :
- Que está a fazer Cláudia?
Cláudia:
- Vou só pôr as chávenas no tabuleiro de sujos.
Thomáz:
- Nada disso, eu levo.
(Cláudia): Bem, esta apresentação tem de acabar da parte da manhã. É suposto, depois do almoço, começar a parte prática, mexer nos papéis e a referenciar a nossa função na empresa, no departamento.
Percorrendo, então, os corredores, eis que à saída do departamento de pessoal, damos de caras, novamente, com o director e, logo de imediato me diz.
Fernando:
- Cláudia, ainda bem que a vejo. Esqueci de lhe dizer que, aí por volta das 18 horas, vá ao meu gabinete. Quero falar um pouco consigo. Deixe o Thomáz a tomar conhecimento de alguma papelada e vá ter comigo.
(Cláudia): Estou encostada à parede, quase sem respirar. Não há motivo, ele é meu patrão e quer falar de trabalho. Estou a tentar convencer-me disso mas...não consigo, é mais forte. Tenho a cabeça a ferver, não paro de imaginar o que ainda não aconteceu. Mas…não aconteceu o quê, Cláudia?
Porquê, porquê este meu estado, porque reajo assim, viver imaginando? E o que é que eu estou a imaginar? Nada…ou estou?
Ai… tenho o Thomáz à minha espera. Não posso demonstrar esta minha aflição, esta minha insegurança, perturbação. Tenho de esconder esta cara, de certeza bem vermelha, porque quente...está ela. Mostrar ao Thomáz a Cláudia, segura e zelosa, no meu trabalho.
Thomáz:
- Ohh…lá…lá, o director não pára de a “requisitar”. Temos aqui um fraquinho à vista? A Cláudia desculpe-me.

(Cláudia): Pedrinha, estás comigo? És tudo o que eu quero agora. Não consigo dizer uma palavra. Dá-me, dá-me a tua frescura, a tua paz. Ajuda-me a raciocinar, a acalmar.
Pedrinha, que se passa comigo?
.

setembro 05, 2010

se eu fizesse? (V)

(Cláudia): Que me lembre, é a primeira vez que estou à mesa na companhia do meu director.
A conversa está a ser muito profissional, digamos que o Director está, também, a dar alguma “formação” ao Thomáz.
Escuto, quero sentir o que me possa estar a escapar ou o que possa aprender. Bom... mas no meio disto, sinto-me como alguém que está a mais nesta mesa. A conversa está entre os dois e eu, com a sensação de não existir, nem sequer me olham. Por uma lado, que bom, mas por outro, esquisita esta sensação. Ás vezes não me entendo.
Estou cada vez mais nervosa, incomodada. Agora sim, acho que bebia mais um café. Estou com o desejo enorme de ficar sozinha, de ir para a minha secretária. Preciso respirar, acalmar, estar no meu cantinho.
Director:
- Thomáz, que diz da nossa Cláudia?
(Cláudia): Valha-me Deus. Passei a personagem principal da conversa. Os dois a falarem de mim e agora, a observarem-me fixamente.
Thomáz:
- Muito eficiente, sabedora e está a ser uma óptima professora.
(Cláudia): Ambos Sorriem e eu também, embora, pela força dos nervos..
Director:
-Ó Thomáz... e bonita, não acha? Cláudia sabe que o Thomáz é licenciado em Gestão?
Cláudia:
- Não Sr. Director. Ainda não sabia.
Director:
- Fernando... Cláudia, Fernando.
Cláudia:
- Tem razão… Fernando.
Director:
- E também deve ser um bom rapaz. É solteiro.
(Cláudia): O Director sorri e eu, cada vez mais nervosa e sem saber para onde olhar. Que raiva… porque é que ainda aqui estou?
Thomáz:
- Fernando... divorciado. Sou divorciado.
Director:
- Ah…é a mesma coisa. Ó Cláudia, até parece mal, mas já que estamos nesta, é casada?
(Cláudia): Pronto…agora já nem consigo fugir. Fiquei colada à cadeira. A minha pedrinha? Nem a sinto, de tão gelada e suada e não é só a mão, sou toda eu.

E eles, com seus olhos em mim, à espera da minha resposta…Pedrinha???
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