outubro 31, 2010

se eu fizesse? (XI)

(Cláudia): Vou para o carro enquanto espero pela...puxa, o telemóvel a tocar, quem será? Olha não podia ser boa, é a Ivone...
Cláudia:
- Ivone, estava a pensar em ti, mas diz.
Ivone:
- Olha, o trânsito está terrível. Vou demorar.
Cláudia:
- E tens alguma coisa combinada? Não dá para vires?
Ivone:
- Não, não tenho nada combinado.
Cláudia:
- Ah... então eu espero. Estou dentro do carro.
Ivone:
- Mas há algum problema?
Cláudia:
- Não, quer dizer...não sei. Depois falamos vá, deixa-te de conversas e vem.
(Cáudia): Ainda não estou em mim. O que me havia de acontecer e o como está a acontecer. Pior ainda...quem és tu?
Autêntica declaração de amor...
Posso desconfiar do Fernando, pelas suas bobagens. Posso desconfiar do Thomáz, afinal anda todo o dia comigo, não sei... primeiro dia, tão pouco tempo.
Qualquer um deles tem tido oportunidades de deixar estes... meu Deus, como vou chamar? Declarações? E são declarações, Cláudia.
O Fernando pode fazê-lo, aproveitando o eu andar com o Thomáz. O Thomáz, também teve momentos sem mim, poucos, mas teve. Quando fui à casa de banho, só aí demorei bastante depois, o departamento de vendas. Houve tempo suficiente para o Thomáz o fazer. Ah... mas não tinha tempo para alterar o ambiente de trabalho do PC. Ahhh... e agora me lembro, minha nossa, o Fernando queria falar comigo. Nunca mais me lembrei e ele também não me ligou... UUhhhh, porrinha. Ai a minha cabeça, ando completamente fora de mim. É o andar com o Thomáz e estes...bolas, estes quê? Bem, agora não vale a pena pensar. Amanhã, quando chegar, será a primeira coisa a fazer. Ligo para para o Fernando, peço desculpa e disfarço, usando o Thomáz. Digo-lhe que estava presa nos papéis e explicava ao Thomáz. Bem, e é a verdade. É... ele não me vai dizer nada.
Cláudia... toma tino nessa cabeça. Não é o trabalho que te anda a pôr assim, são as declaraç... nossa, o telemóvel a tocar.
Cláudia:
- Estou, Ivone? Diz.
Ivone:
- Mais 15 minutos.
Cáudia:
- Tá, eu estou no carro. Olha, está estacionado no parque e mesmo em frente ao café.
Ivone:
- Tá.
(Cáudia): Mas que confusão que vai na minha cabeça.
Bom... uma coisa é certa, quem o faz... sabe fazê-lo. Aquece o coração de uma mulher. Eu só gostava de saber quem é.
Há momentos em que gostava de ser uma mosca e estar poisada sem que ninguém me visse. Assim, já não estava nesta aflição.
Bem, isto vai ter um fim, só não sei qual e quando. Mas, e... e será que ele me vê, a ler o que me escreve? Será que eu olhando em redor, poderei estar a vê-lo? Ahh... que sussstooo.
Cláudia:
- Ai Sr. Segurança... dessa maneira? Bater no vidro do carro, assim pos...
Segurança:
- Calma D. Cláudia. Vá, acalme-se que sou eu.
Cláudia:
- Pois, agora vejo que é o senhor. Faça-me outra e eu morro.
Segurança:
- Nossa, D. Cláudia. Não é caso para tanto.
Cláudia:
- Diz o senhor, ponha-se no meu lugar e eu quero ver. Mas, há algum problema?
Segurança:
- Não sei se é problema. Afinal, a D. Cláudia está no carro, já deve ter visto.
(Cláudia): Pedrinha... ???
Cláudia:
- Mas visto o quê?
Segurança:
- Atrás do seu carro, o que está atrás do seu carro.
Cláudia:
- Atrás do meu car...
Aiii homem... saia-me da frente.
(Cáudia): Não...Não...
Segurança:
- Sente-se bem D. Cláudia? Não me diga que não tinha visto?
Cáudia:
- Não, não tinha visto!
Eu saí pela porta de serviço e fui direita ao café. Quando vim para o carro, venho de frente e...
não dá para ver o que está atrás do carro.
(Cláudia): Mas o que é isto, Cláudia???
Cláudia:
- Está a rir-se?
Segurança:
- Peço desculpa, D Cláudia. Vou ali para a porta, para o meu posto. Peço desculpa, julguei que já sabia. Boa noite, D. Cláudia.
Cláudia:
- Diga? Si...
Boa noite...
(Cáudia): Mas... Ai, não sei que dizer. Como foi esta? Se não está escondido... não estou a ver ninguém por perto.


Mais uma declaração. Tudo pintalgado, tenho de limpar...rápido, até o segurança me gozou. E a flor, que lhe faço??? Vais responder... Pedrinha?

(foto: Net, Arranjo: sérgio figueiredo)

outubro 18, 2010

se eu fizesse? (X)

Cláudia:
- Bom... Thomáz, as apresentações estão feitas. Penso não ter esquecido nada nem ninguém, claro, menos quem está ausente, mas tudo que havia para conhecer, foi revelado. Agora, vem o mais importante. Toda a nossa atenção vai ser determinante aqui, no nosso departamento.
Temos de ser rápidos, por outro lado, demore o tempo que precisar para ficar, tanto quanto possível, o mais esclarecido, não deixando as dúvidas consigo. Perguntas... faça-mas quantas quiser.
Thomáz:
- Cláudia, para já quero agradecer a sua entrega, admiro o seu profissionalismo. Quanto ás perguntas, sabe que irão ser muitas, mas sei que compreende e posso contar consigo. Estou confiante. O Fernando ficará contente connosco, o departamento vai funcionar como ele quer.
Cláudia:
- Então vamos a isto.
Thomáz:
- Cláudia, se não for pedir muito, deixa-me ir buscar um cafézinho?
Cláudia:
- Claro.
Thomáz:
- Sabe, o café liberta-me deste nervoso. Quer um para si?
Cláudia:
- Para mim não, obrigado, e não há motivo para estar nervoso. Tem competência para assumir o que lhe é pedido. Olhe... as horas passam sem dar-mos por elas e já falta pouco para terminar este dia. Prepare-se para o amanhã, mas até lá... trate de descontrair.
Tomáz:
- Ehhh... tem razão. Nem se dá pelo tempo. Vou mesmo arranjar maneira para descontrair.
E a Cláudia? Ah... Desculpe a pergunta.
Cláudia:
- Não faz mal. Não sou de formalismos, como já deve ter visto.
Hoje, saio daqui meto-me no carro e vou jantar com uma amiga. Fazemos muitas vezes isto, é já um hábito nosso. Moramos as duas sózinhas e assim, olhe, é como disse, descomprimir... e hoje bem preciso.
Thomáz:
- Está estoirada, por minha causa?
Cláudia:
- Ahh... não diga isso. São outras coisas, nada consigo, Thomáz.
Bem, já lhe dei essas pastas e aí pode ver os nossos fornededores. É importante começar a ver com quem nos relacionamos e o peso que cada um tem para nós. Aqui, no departamento, o nosso trabalho é a relação da empresa com eles.
Thomáz:
- Nomes de grandes empresas. Revela a importância da nossa.
Cláudia:
- Thomáz? Hora de sair. Amanhã começará a ser mais pesado. Vá... e deite fora esses nervos.
Thomáz:
- Sim, e a Cláudia?
Cláudia:
- Não vou demorar. Vou só enviar um mail e corro até à porta de saída.
Thomáz:
- Tem a certeza? Não precisa de qualquer ajuda?
Cláudia:
- Até amanhã... fuja daqui que está na hora.
Thomáz:
- Bom, se assim é... até amanhã, Cláudia.
Cláudia:
- Até amanhã, Thomáz.
(Cláudia): Bem, vamos lá. É só enviar este mail, ir à casa de banho e vou aliviar a minha cabeça. Hoje foram muitas emoções.
Pronto... está tudo. Ahh... a chave do carro? Já cá ficava.
Ora... já nem me lembro onde o estaci... está ali. O comando e... vamos embora. Oh... um papelinho na porta. Lá vêm os compradores de carros, ou os astrólogos... deixa ver.

Passeava por caminhos do nada
e uma voz, subitamente, suava.
Não percebia o que dizia,
mas senti que cantava
e encantava.
Olhei...Olhei
e cego continuei.
Cada vez mais perto,
cada vez mais alta.
Algo me estava em falta
e começava a doer.
Continuava alta e eu,
sem nada ver.
No ar, um perfume
e dentro de mim, só lume.
Cada vez mais perto,
cada vez mais alta.
O perfume em mim se entranhava
e eu, cansado,
nem sei onde...
descansava.
É aí que sinto,
beijando o meu ouvido,
já num tom gemido,
uma voz a sussurrar-me.
Queria dizer...
amar-me,
sentir as minhas mãos tocar-lhe.
Virei-me e uma flor... vi.
Inclinou-se, de novo,
ao meu ouvido e disse-me...
Fica comigo,
sou tua,
ou leva-me contigo.
.
DIZ-ME QUE ÉS TU, CLÁUDIA
QUE NÃO FOI UM SONHO
.
(Cláudia): Telemóvel, onde estás? Encontrei... atende vá. Amiga? Vem ter comigo. Estou à porta da empresa. Não perguntes nada e vem... rápido. Aiii...
Pedrinha... e tu?
.

outubro 11, 2010

se eu fizesse? (IX)

Fernando:
- Cláudia, que se passa, sente-se bem?
Desculpe dizê-lo, mas está mais branca que a cal da parede.
Cláudia:
- Não...Nada de preocupante. Apenas uma pequena indisposição.
Fernando:
- Mas quer que a leve a algum lado?
Cláudia:
- Claro que não. Logo, logo, já passou. Obrigado
Fernando:
- Bem...não faça cerimónias e se precisar...diga-me.
Thomáz:
- Cláudia, escuso de dizer que estou ao dispôr. Sabe isso, certo?
Cláudia:
- Obrigado Thomáz. Assim que começar a comer o rodízio, humm... logo sou outra.
Fernando:
- E não podia ser melhor. Aí vem ele.
Bem... o melhor é tirar o casaco e atirar-me a ele.
(Cláudia): Não nego que o cheirinho convida e a minha barriga, apesar de tudo, dá sinais de vazia.
Fernando:
- Thomáz... o aspecto, já lhe diz alguma coisa?
Thomáz:
- O aspecto e o cheiro.
Fernando:
- Cláudia, que diz?
Cláudia:
- Sim. Combina com a fome que sinto.
Fernando:
- Então... Bom apetite e vamos a isto.
Ah...Cláudia, mandei vir tintinho. Está bem para si?
Cláudia:
- Óptimo.
Thomáz:
- Maravilhoso.
Fernando:
- Não percebi Thomáz.
Thomáz:
- Estava a dizer que está maravilhoso.
Fernando:
- Eu não lhe disse que a nossa "Claudinha" brilhava nas escolhas.
Cláudia...então?
Cláudia:
- Está tudo bem. Caíu o garfo, peço já outro.
(Cláudia): "Claudinha"... ???
Fernando:
- Thomáz, embora não querendo falar de trabalho, neste momento, como está a reagir com o que já conhece?
Corte-me mais uma fatiazinha dessa, se faz favor.
Isso... está bom. Obrigado
Thomáz:
- Fernando, claro que numa manhã, muito pouco. Apenas me permite observar, para já, a estrutura física e "potencial" organização da empresa. Os vários departamentos, os colegas e suas funções. Preciso de mais tempo, claro, para começar a familiarizar-me com a empresa no seu todo.
Fernando:
- Sem dúvida, mas...a Claudinha? Está a deixá-lo tranquilo, quanto ao que queremos de si, ou são mais as dúvidas que... hummm, este rodízio está óptimo, não acham?
Estou é a vê-lo, a si e à Claudinha, com os copos vazios. Com licença, deixem-me dar cor aos vossos copos.
Cláudia:
- Fernandooo... chega, isso já é muito.
(Cláudia): "Claudinha", outra vez. Bom, mas é preferível só o "Claudinha", que depressa esquece, do que ir por aí fora com outras piores. Assim está bem...só trabalho.
Thomáz:
- De facto, está divinal.
Fernando:
- O quê? A Cláudia ou o almoço?
(Cláudia): Pronto... não se pode elogiar. Aí está o Fernando com as dele...
Thomáz:
- Olhe, pegando nas suas palavras... a Cláudia e o almoço.
(Cláudia): Outro...
Fernando:
- E se pedíssemos mais uma dose...ou duas?
Thomáz:
- Por mim, não podia estar melhor do que estou.
Cláudia:
- E para mim, já foi abusar.
Fernando:
- Eu também estou bem, mas se vocês alinhassem...eu não recusava mais um pouco. Ahh... mas agora a sobremesa e cá está mais uma coisa que deixo nas mãos da Cláudia. Humm...mais doce que ela será difícil encont... Então Cláudia, outra vez engasgada?
Cláudia:
- É...simm, desta vez engasguei.
(Cáudia): Era inevitável. Aí está o Fernando com as dele. Só gostava de saber porquê? Ele nunca se demonstrou assim comigo. Aí estão os suores...não sei se é do vinho ou o Fernando. Acho que vou à casa de banho.
Cláudia:
- Fernando, antes de irmos vou, rapidinho, ao wc.
Thomáz:
- Está mal disposta, Cláudia?
Cláudia:
- Não, não... é só para ir aliviada.
(Cláudia): Lavo a boca, refresco a cara...será que eu ando a exagerar, a valorizar demais as "babuseiras" do Fernando? Será para dar a entender ao Thomás, o seu ar brincalhão? E tu, pedrinha... não me dizes nada? Continuas com o teu brilho, o teu cheirinho, o teu encanto que me acalma, mas... não é isso que sinto. Aiii...Deixa-me ir.
Fernando:
- Sente-se bem, Cláudia?
Cláudia:
- Muito melhor, sem dúvida.
Fernando:
- Nota-se, na sua cor.
(Cláudia): Aiii... e tráz a sua mão ao meu queixo, virando a minha cara para o Thomáz. Que dor de barrigaaa...
Thomáz:
- Muito mais rosadinha. Então vamos?
(Cláudia): Uiii... querem ver que é já aqui que faço? Vá, Cláudia, massaja a barriga, tenta acalmar-te... Bem, vou aguentar e nem demoro mais.
Cláudia:
- Estou pronta.
(Cláudia): Chegámos. Agora é que vou à casa de banho.
Cláudia:
- Thomáz, vou só à casa de banho e quando vier, vamos ver os dois departamentos que faltam.
Thomáz:
- Certo. Ahh...não esconda. Noto que algo está a mexer consigo, só não quis dizer junto do Fernando.
Cláudia:
- A mexer comigo... como assim?
Já falamos. Eu não demoro.
(Cláudia): Mau... agora o Thomáz? Não, é apenas simpatia. Ele mal me conhece. Vá...vá... deixa de pensar Cláudia.
Thomáz:
- Então... melhor?
Cláudia:
- Sim. Vou só ver se tenho algum mail importante e seguimos. Não podemos abrandar.
Ai meu Deus... mas...
Thomáz:
- Cláudia?
(Cláudia): O que é isto??? Quem mexeu no meu PC? Ahh, alteraram o ambiente de trabalho ...




Não...não...não. Isto não é verdade... Quem és tu? E tu... pedrinha, diz-me... porquê? Quem é este "desconhecido", que me persegue?
Thomáz:
- Cláudia... algum problema?
.
(foto, arranjos e poema: sérgio figueiredo)