agosto 31, 2010

se eu fizesse? (IV)

De boa apresentação, figura bem cuidada, cabelo grisalho, fato cinzento-escuro, camisa azul clara e gravata azul escura. Este é o Sr. Thomáz, que foi "entregue" a Cláudia, para fazer a visita pela empresa, pelos vários departamentos e ser apresentado a todos os colegas.
Cláudia: A primeira palavra que trocámos foi a nossa apresentação, agora, que estamos os dois sozinhos, num tom mais informal. À primeira vista, deu para notar a sua voz bem suave, palavras pausadas e apresentando a imagem de alguém muito calmo e social.
Percorria os vários departamentos da empresa e, enquanto isso, nos intervalos destas apresentações sempre havia tempo para uma conversa extra e um pouco mais relacionada connosco, quer dizer, sobre as funções que irá desempenhar no departamento. Não me parece que seja uma pessoa com dificuldades em estabelecer o diálogo.
O tempo corre e estamos a meio manhã, as apresentações continuam mas, recebo uma pergunta do Thomáz.
Thomáz:
-Habitualmente não há um tempinho para tomar um cafezinho?
Cláudia:
- Claro que existe esse tempo.
Thomáz:
- Então podemos? Deixa-me convidá-la?
Cláudia:
- Aceito. Temos o nosso refeitório, onde nos podemos sentar um pouco.
Thomáz:
- Óptimo, já me vazia falta. Sabe Cláudia, sou um viciado em café.
Cláudia: Assim foi, sentámo-nos no refeitório e bebemos o café sendo que, pelo meio, como que adolescente, tentei estabelecer um diálogo mas...a confiança ainda é curta e uma certa timidez que se revela, impedia-me de olhar para o Thomáz e estabelecer conversa, que mais não podia ser, senão e, apenas, sobre trabalho, pensava eu, até que o Thomáz, num repente me pergunta.
Thomáz:
- Cláudia, posso tratá-la por tu? Se não levar a mal e já que vamos estar todo o dia, todos os dias, em contacto um com o outro e no mesmo departamento?
Cláudia:
- Claro que não, porque não?
Não que Cláudia estivesse incomodada, mas notava-se nitidamente o seu rosto corado e um movimento de mãos, esfregando-se uma na outra e suadas. O seu café, ainda estava a meio, causando embaraço e originando outra pergunta do Thomáz.
Thomáz:
- Cláudia, não terminas o teu café?
Cláudia:
- Haa…ah, não, já não me apetece mais e... já está frio.
Thomáz:
- Eu vou buscar outro.
Cláudia:
- Não, não Thomáz, deixe…quer dizer…deixa. Não me apetece mesmo.
Prontos para se levantarem e continuarem a tarefa, eis que são surpreendidos pela entrada do director no refeitório que, em voz alta, logo pergunta.
Director:
- Já vão embora? Já agora esperem um pouco.
Cláudia ficou pior do que estava. Mãos frias, suadas e agora um tremor nas pernas, acompanhado de uma “súbita” vontade de ir à casa de banho. Contudo, interrogava-se:
Cláudia: Calma, calma Cláudia. É apenas o director, que mal tem isso?
O director pega numa água com gás, chega-se à mesa e, com elegância, pergunta:
Director:
- Posso fazer companhia?
Cláudia:
- Claro Sr. Director.
Director:
- Fernando. Cláudia, trate-me por Fernando.
Cláudia: Meu Deus. Que faço?
Levou a mão ao bolso e apertou a pedrinha...
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agosto 26, 2010

apenas um tempo...

Não, não faz parte do conto que tento idealizar.
Quero pedir-vos um tempo, um tempo que me ajudará na caminhada do regresso.
Não quero, por isso, que pensem que se trata de "desistência", é apenas um tempo, o suficiente para virar a página de um livro de vida, que teima em terminar.

até

agosto 21, 2010

se eu fizesse? (III)

Sabendo que os dias não são todos iguais, aí estou eu, na rua, para me dedicar a mais um dia rotineiro. Bem agasalhada, porque o tempo não está de grandes calores estando, até bem diferente ao de ontem, na temperatura.
- Ah… tenho de voltar a casa, esqueci a minha pedra.
Acelera seu passo, entra em casa e levanta a almofada…
- Eu sabia que estavas à minha espera…não imagino perder-te.
Beija a pedra, coloca-a no bolso de suas calças e sai, agora, mais completa para começar o dia de trabalho.
Já bem perto do escritório primeiro, a pastelaria do Sr. João. É ali, que todos os dias toma o pequeno-almoço.
- Bom Dia Sr. João.
-Olá Bom Dia menina Cláudia. Vai o costume?
- Sim, para não variar. Obrigado.
(Trata-se de um copo de leite bem quente e um pãozinho de Deus com um pouco de manteiga). Sentei-me, até porque ainda faltava uma meia hora para entrar no escritório e, entretive-me a observar aquele mundo de gente. Uns mais apressados que outros, por sua vez, outros conversando num timbre de voz que quase causa arrepios. Conversas de futebol, de mulheres e homens, do dizer mal deste e daquela, enfim, um mar de vida.
Leva a sua mão ao bolso das calças e retira a pedra. Cheira-a, beija-a e esfrega-a, suavemente nas mãos...
- Aqui está o seu pequeno-almoço menina.
- Ah…obrigado Sr. João.
Remete a pedra novamente ao bolso e começa a comer. Entretanto...
- Olha, o meu colega.
Levantando o seu braço, faz-lhe sinal para que se fosse sentar e assim foi. Acompanhado da sua bica, sentou-se e lá demos dois dedos de conversa. O suficiente para o tempo passar a correr. Saímos e dirigimo-nos ao escritório.
E…
Uma surpresa logo de manhã e para mim.
Ainda não me tinha sentado e sou abordada pelo meu Director, acompanhado por um outro senhor.
Diz-me o Director:
- Bom Dia Cláudia, apresento-lhe o Sr. Thomáz.
Entra hoje para a empresa e vem ocupar o lugar vago junto de si.
Delicadamente, levanto-me e cumprimento o Senhor e depois o meu Director que, de imediato me diz:
- Cláudia, quero pedir-lhe que ajude este nosso, novo, colaborador. O identifique do que se pretende e lhe dê uma apresentação, o mais apurada possível, sobre a empresa. Gaste o tempo que achar necessário, para que nada possa escapar. Quero o Thomáz bem conhecedor de quem somos. Deixo-o nas suas mãos, até já.
Assumi a função mas... não sem antes reparar o quanto o meu Director me observava.
O seu olhar, fora do habitual, os seus olhos, a fixação em mim, por vezes o parecer interromper a sua conversa e, naquele curto silêncio, o seu olhar como se fosse a primeira vez que me via.
Não posso dizer que tenha ficado incomodada, mas...
Quer dizer…fiquei. Algo de diferente notei e em mim penetrou... e ficou.
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agosto 17, 2010

se eu fizesse? (II)

Não obstante o prazer de caminhar naquela praia, surge, como que uma obrigação, virar-se para trás e começar a fazer o caminho de regresso.
Para sua satisfação, outras belezas se lhe proporcionam. O dia já vai longo e o Sol, se vai escondendo. O mar, esse, não se esconde, mas se apresenta leve, calmo, sereno e mantém o perfume a maresia. Esta calma deixa transparecer um agradável reflexo que quase lhe toca e a envolve com a sua cor abrilhantada. O Sol, aquele que se esconde, mas que, ainda, lhe oferece luz e desenha seu corpo na areia.
Os pensamentos, mais ricos, fazem com que as suas passadas se tornem mais apressadas. Ela volta para sua casa com justificada razão para tanta alegria. Tudo o que de bom, seu corpo absorveu e a pedra, agora, bem quente no calor da sua mão e, ainda, sempre, encostada no seu peito, pronta a ser colocada debaixo da almofada da sua cama e, adocicada de sabores que são seus desejos. Tem, assim, o ânimo de enfrentar o peso de mais uma meia dúzia de dias que tem pela frente. Como serão? Ela não pode saber, ela não quer saber. Ela apenas sabe o quanto ganhou com o dia de hoje.
Veste o seu pijama, deita-se e acomoda a sua cabeça, o seu rosto, na suavidade da almofada. Finalmente e já na tranquilidade da noite, com um gesto, esperado, leva sua mão para debaixo da almofada…
alguém que deseja, está lá.
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agosto 13, 2010

se eu fizesse? (I)

Descalça, calças arregaçadas, encharpe tapando sua camisa branca, mas protegendo seu corpo de uma aragem, pura e fria, ela caminha pela areia da praia, vazia, onde se pode sentir um maravilhoso salpicar, tocando em sua cara e dando o sabor de um mar bravio e salgado. Um cheiro a encanto, perfume maresía e ondas de uma espuma, que mais parece neve em derrocada, contrastando com o som de uma melodia, conjunta, de água e uma gaivota, de asas bem abertas, voando, planando, contra o soprar de um vento forte, que não impede sua mestria e atenção, na procura do alimento que o mar azul e quase transparente, lhe ofereçe. É um caminhar de pensamentos, onde a beleza, infinita, lhe dá a tranquilidade de, a cada passada, desenhar na areia, seus delicados pés que resumem um presente e um passado, que depressa se vai apagando engolido pelo mar, resultado de ondas, também elas, desfeitas.
Abraçada ao seu corpo e sentindo a sua leveza, que cresce consoante o seu querer, deixando seus cabelos esvoaçarem e seus olhos lacrimejarem, nada consegue sobrepor-se a este paraíso, vazio e tão cheio.
As suas passadas continuam e o observar ilustra-se. Sente que algo pisou, era uma pedra, apenas uma pedra, baixa-se e apanha-a. É branca, lisa, aveludada, sente o seu aroma, sua frescura e o seu silencio. Olha-a fixamente, fecha-a na sua mão e, respirando bem fundo, aconchega-a, apertando-a ao seu peito.
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agosto 10, 2010

gostava...

Gostava de ser poeta
e viver com as palavras,
juntos numa caverna.
longe de linhas amargas.

Gostava de ser poeta
dar brilho a uma estrela,
a uma palavra.
conhecer todas as letras
dando-lhe um nome, para merece-la.

Gostava de ser poeta,
saber escrever todas as palavras.
dar força à minha caneta,
liberta de tantas amarras.

Gostava de ser poeta
e ser amado pelas palavras.
sentindo o seu amor,
quando as vejo conjugadas.

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agosto 07, 2010

o encontro...

tenho encontro marcado,
com o céu e com o mar.

não quero atrasar.

visto-me a rigor,
e há quem diga...
em tons de amor.

olho-me ao espelho,
não gosto do que vejo.
meu rosto corado,
por este encontro marcado.

não quero atrasar.

tenho o céu e o mar,
num esperar.

cheguei, vou entrar,
deixo meus olhos procurar
e meu rosto, não pára de corar.

mas...lágrimas começo a soltar
e meus olhos,
ansiosos por fechar.

tenho encontro marcado
com o céu e com o mar.

onde podem estar
e não os encontrar?

todos presentes
e só eles ausentes.

saio a porta, do desencontro,
triste com o desconforto.

caminho e alguém me chama.

olho para o alto
e vejo o céu.
olho em frente
e vejo o mar.

deixei de corar, de lagrimar.
começo a sorrir, acabaram por vir.

digo-lhes... vamos entrar?
e dizem-me,
não podemos.
então? porque não?
a vossa beleza irradia,
o perfume, é maresia,
contagia,
é magia.

mas não vês?
só aqui fora é o nosso lugar.

não podemos entrar,
e é contigo que queremos estar.

FICAS?

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agosto 04, 2010

nada...

perdido,
na madrugada,
conto passos
pela estrada
e tento encontrar,
o que não vejo,
com nada.

sózinho,
tenho o longe
comigo
e neste escuro,
caminho...
sem sentido.

procuro um abrigo
dito,
naquela rua,
nua,
sem brilho,
sem Lua...
crua.

perdido
e sem nada,
vagueio
eternamente,
nesta estrada da madrugada.



(autor sérgio figueiredo)
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agosto 02, 2010

com tempo...

fico atento...
ao tempo,

com pouco me contento,
com mais...
nunca é demais.

durmo...
com ele,
acordo...
a vê-lo,
não posso esquece-lo.

vivo...
com o tempo.
a ele...
estou atento.

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